Nos idos da década de 50, o bairro hoje conhecido como Boca do Rio era o lar dos pescadores de Xaréu que, ligados a outras colônias da cidade, pescavam o peixe na orla marítima. Parte do bairro dava lugar a uma grande fazenda onde se criavam as vacas, daí o nome A Cocheira, como chamavam a região naquela época. O nome atual faz referência ao poluído Rio das Pedras, que desemboca na região.
Há 30 anos mais ou menos, Caetano Veloso dizia em uma música de sua autoria que a Boca do Rio era “beleza pura”. Realmente, na década de 70 e 80, o bairro era desta maneira. Lá ficava a praia preferida dos artistas, freqüentada por Caetano, Gil, Novos Baianos e muita gente alternativa. Até hoje, o local ainda é chamado de Praia dos Artistas, apesar de nenhuma celebridade aparecer mais na região. Além disto, nos últimos anos, a degradação ambiental e o inchaço demográfico mudaram a cara do bairro, que é um dos remanescentes quilombolas da cidade de Salvador.
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Começando no Centro de Convenções, o bairro tem como limites Pituaçu ao leste e o Imbuí ao norte. Este último, antigamente, também era chamado de Boca do Rio, assim como o local hoje conhecido como Conjunto Guilherme Marback.
Assemelhando-se a uma pequena cidade do interior, o bairro tem feirinhas ao ar livre, um forte comércio popular e praças onde a vizinhança se reúne. Além disto, a orla da Boca do Rio ainda possui um shopping a céu aberto – o antigo Aeroclube Plaza Show, que está em reformas há mais de um ano e abrirá com o novo nome de Aeroclube Shopping & Office. O acordo feito entre a administração do Aeroclube e a prefeitura de Salvador prevê também a construção de um Parque Atlântico na localidade, mas as obras ainda não começaram.
Carências
A Boca do Rio é um bairro popular, marcado por contradições, já que diferentes classes sociais dividem o mesmo espaço. A tranqüilidade que levou artistas as praias do bairro ficou no passado, registrada na memória de alguns moradores saudosos. O bairro detém hoje altos índices de violência e problemas estruturais graves, como a falta de saneamento, que o coloca entre os maiores focos de mosquitos da dengue.
No entanto, alguns moradores mais antigos continuam vendo a Boca do Rio como um local sossegado e bom para morar. “[A situação do bairro] tá muito melhor agora. Aqui onde eu moro [no Caxundé, região da Boca do Rio] não tem violência”, afirma o mestre Paulo Tavares, 87 anos, que vive há mais de sessenta anos na mesma rua e é o pescador mais antigo da Colônia.
Veja vídeo sobre a história da Colônia de Pescadores da Boca do Rio:
O Caxundé abriga a famosa Creche Béu Machado, que foi fundada em 1986, por Maria José da Silva Machado, conhecida como Dona Neném. Inicialmente, o objetivo da instituição era acolher crianças que eram deixadas em sua porta pelos pais que saiam para trabalhar. Hoje, a creche é conhecida em toda a cidade e passou também a dar assistência a idosos, por meio de socialização e atendimento médico.
De acordo com a coordenadora da Administração Regional IX, Sônia Regina Camargo, as principais carências da área são falta de esgotamento sanitário, construções irregulares de moradias, imóveis sem registro e ruas sem asfaltamento. A AR IX engloba a Boca do Rio e adjacências, totalizando 34 localidades. “Existe uma ação integrada entre o órgão e o 9º Departamento de Polícia, situado no bairro, para controlar este, que é também um dos atuais problemas da área”, diz Sônia.