segunda-feira, 5 de maio de 2008

A praia esquecida pelos artistas

Esculturas lembram a degradação ambiental da praia

A Praia dos artistas, escondida atrás de pequenas dunas no bairro da Boca do Rio, passa quase que despercebida não fossem as bandeiras coloridas que identificam suas barracas. Conhecida por ter sido ponto de encontro de artistas e intelectuais na década de 70, a praia já não é mais a mesma dos velhos tempos.


Seu Aloísio Almeida, que mantém uma barraca no local há 34 anos, reconhece que o modismo de freqüentar o local passou, mas para ele, esse não é o principal problema. “A questão não é a barraca não estar mais tão freqüentada, mas sim a violência e a falta de preservação ambiental aqui na Boca do Rio”, diz.


O barraqueiro nascido em Conceição de Almeida, no Recôncavo baiano, lembra com saudosismo da época em que chegou ao bairro. No trabalho informal de jornalista para o Jornal da Bahia, foi até à praia para fotografar o corpo de um homem que havia se afogado, e desde então, se apaixonou pelo local. “Finquei uma bandeira em três de outubro de 73 e não saí mais”, diz ele, que é dono de um outro estabelecimento comercial no bairro.


Segundo ele, a Boca do Rio nessa época não tinha esse nome, era conhecida como Cocheira, onde antigamente diziam ser uma grande fazenda. A praia tranqüila logo se tornou uma área de veraneio freqüentada por artistas, músicos e outras personalidades do meio cultural baiano.


Habitada por pescadores, a região também tinha um mangue, de onde seu Aloísio tirava camarão, caranguejo e guaiamu que servia em sua barraca para artistas como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Zizi Possi , Renata Sorrah e Marcos Paulo. Isso fez com que o próprio barraqueiro batizasse o lugar de “Praia dos Artistas”.


Mas “A Cocheira” cresceu e com isso vieram os problemas da violência e da devastação ambiental. Morador engajado do bairro da Boca do Rio, Aloísio criou o Comitê de Defesa da Praia dos Artistas, junto com alguns vizinhos para preservar não só a sua área, “mas todos os mares”.


Uma de suas causas é a resistência a um projeto do governo Paulo Souto, que previa a construção de um emissário submarino que seria instalado próximo à região, para expelir detritos orgânicos. “O projeto antes era para colocar em Jaguaribe e depois mudaram pra cá. Eu não vou desistir, ainda estou brigando para que isso não aconteça”.


Apesar de todos os problemas que o crescimento do bairro trouxe, seu Aloísio garante que o clima de vanguarda e refúgio tropical não afastou os moradores e os antigos boêmios da Praia. Ali estão concentradas também algumas das barracas mais badaladas do público gay, como Aruba e Bahamas. “Por aqui passaram a moda do nudismo, do topless, e a liberação do mundo gay também”.


O homem que batizou a praia hoje se preocupa com a sua preservação. Para ele, “esse é um dos únicos bairros da orla marítima de Salvador que ainda não foi totalmente esmagado por toda essa evolução desastrosa. Falta consciência e se depredarem mais ainda essa área, vão acabar com tudo”.



+ mais: Trecho da entrevista com Seu Aloísio



3 comentários:

Anônimo disse...

Me vi obrigado a deixar minha opinião sobre essa matéria. O Marback, Imbuí,Costa Azul e Stiep ainda integram a Boca do Rio Segundo A Administração Regional (AR) Quanto ao fato da praia ter sido abandonada pelos artistas como você cita em seu texto, sou obrigado a discordar. Se você se refere aos tropicalista sim, não dão mais as caras, mas artistas ainda frequentam a praia sim. tanto os do local, quanto os que já têm projeção nacional, como Luis Miranda ainda aparece e traz amigos artistas. Quanto aos indices altos de violência, você não os apresenta e nem diz de qual fonte obteve essa informação. Pelas fontes que você utilizou me parece que conhece bem o bairro. A matéria ficou boa, mas faltou um pouco mais de apuração.

Manuca Ferreira disse...

Respostas:

Apesar de algumas localidades integrarem a AR da Boca do Rio, elas são encaradas como outros bairros pela própria prefeitura de Salvador. Por isto, a distinção. Quanto aos artistas, não sei se ficou claro na matéria, mas fazia referência aos artistas que a frequentavam nas décadas de 70, 80. Faltou a informação dos altos índices de violência, porque tentamos várias vezes nos comunicarmos com a delegacia da Boca do Rio, mas não conseguimos. No entanto, o registro do alto índice de violência se deu pelas reportagens que já foram publicadas sobre o bairro e outras fontes. Obrigado pelos elogios e pelas críticas e pode continuar visitando o blog. Prometo novas postagens em breve.

Mandacaru disse...

A iniciativa da matéria é interessante, porém precisa um pouco mais de apuração, pois apresenta alguns equívocos, como por exemplo a criação do Comitê de Luta em Defesa da Praia dos Artista. Na verdade este movimento foi criado durante a revisão do PDDU em 2005, quando várias lideranças da comunidade, representantes de várias órganizações pupulares e ONG's da região (AR IX), ficaram sabendo do projeto SDO JAGUARIBE, e decidiram criar o COMITÊ DE LUTA EM DEFESA DA PRAIA DOS ARTISTA. Claro que Alísio também fez parte deste processo, mas não o criado do comitê e sim um dos criadores.

 
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