sábado, 25 de outubro de 2008
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segunda-feira, 5 de maio de 2008
Boca do Rio: um bairro de contrastes
Nos idos da década de 50, o bairro hoje conhecido como Boca do Rio era o lar dos pescadores de Xaréu que, ligados a outras colônias da cidade, pescavam o peixe na orla marítima. Parte do bairro dava lugar a uma grande fazenda onde se criavam as vacas, daí o nome A Cocheira, como chamavam a região naquela época. O nome atual faz referência ao poluído Rio das Pedras, que desemboca na região.
Há 30 anos mais ou menos, Caetano Veloso dizia em uma música de sua autoria que a Boca do Rio era “beleza pura”. Realmente, na década de 70 e 80, o bairro era desta maneira. Lá ficava a praia preferida dos artistas, freqüentada por Caetano, Gil, Novos Baianos e muita gente alternativa. Até hoje, o local ainda é chamado de Praia dos Artistas, apesar de nenhuma celebridade aparecer mais na região. Além disto, nos últimos anos, a degradação ambiental e o inchaço demográfico mudaram a cara do bairro, que é um dos remanescentes quilombolas da cidade de Salvador.
Veja mais sobre a Praia dos Artistas:
Começando no Centro de Convenções, o bairro tem como limites Pituaçu ao leste e o Imbuí ao norte. Este último, antigamente, também era chamado de Boca do Rio, assim como o local hoje conhecido como Conjunto Guilherme Marback.
Assemelhando-se a uma pequena cidade do interior, o bairro tem feirinhas ao ar livre, um forte comércio popular e praças onde a vizinhança se reúne. Além disto, a orla da Boca do Rio ainda possui um shopping a céu aberto – o antigo Aeroclube Plaza Show, que está em reformas há mais de um ano e abrirá com o novo nome de Aeroclube Shopping & Office. O acordo feito entre a administração do Aeroclube e a prefeitura de Salvador prevê também a construção de um Parque Atlântico na localidade, mas as obras ainda não começaram.
Carências
A Boca do Rio é um bairro popular, marcado por contradições, já que diferentes classes sociais dividem o mesmo espaço. A tranqüilidade que levou artistas as praias do bairro ficou no passado, registrada na memória de alguns moradores saudosos. O bairro detém hoje altos índices de violência e problemas estruturais graves, como a falta de saneamento, que o coloca entre os maiores focos de mosquitos da dengue.
No entanto, alguns moradores mais antigos continuam vendo a Boca do Rio como um local sossegado e bom para morar. “[A situação do bairro] tá muito melhor agora. Aqui onde eu moro [no Caxundé, região da Boca do Rio] não tem violência”, afirma o mestre Paulo Tavares, 87 anos, que vive há mais de sessenta anos na mesma rua e é o pescador mais antigo da Colônia.
Veja vídeo sobre a história da Colônia de Pescadores da Boca do Rio:
O Caxundé abriga a famosa Creche Béu Machado, que foi fundada em 1986, por Maria José da Silva Machado, conhecida como Dona Neném. Inicialmente, o objetivo da instituição era acolher crianças que eram deixadas em sua porta pelos pais que saiam para trabalhar. Hoje, a creche é conhecida em toda a cidade e passou também a dar assistência a idosos, por meio de socialização e atendimento médico.
De acordo com a coordenadora da Administração Regional IX, Sônia Regina Camargo, as principais carências da área são falta de esgotamento sanitário, construções irregulares de moradias, imóveis sem registro e ruas sem asfaltamento. A AR IX engloba a Boca do Rio e adjacências, totalizando 34 localidades. “Existe uma ação integrada entre o órgão e o 9º Departamento de Polícia, situado no bairro, para controlar este, que é também um dos atuais problemas da área”, diz Sônia.
A praia esquecida pelos artistas
A Praia dos artistas, escondida atrás de pequenas dunas no bairro da Boca do Rio, passa quase que despercebida não fossem as bandeiras coloridas que identificam suas barracas. Conhecida por ter sido ponto de encontro de artistas e intelectuais na década de
Seu Aloísio Almeida, que mantém uma barraca no local há 34 anos, reconhece que o modismo de freqüentar o local passou, mas para ele, esse não é o principal problema. “A questão não é a barraca não estar mais tão freqüentada, mas sim a violência e a falta de preservação ambiental aqui na Boca do Rio”, diz.
O barraqueiro nascido em Conceição de Almeida, no Recôncavo baiano, lembra com saudosismo da época em que chegou ao bairro. No trabalho informal de jornalista para o Jornal da Bahia, foi até à praia para fotografar o corpo de um homem que havia se afogado, e desde então, se apaixonou pelo local. “Finquei uma bandeira em três de outubro de 73 e não saí mais”, diz ele, que é dono de um outro estabelecimento comercial no bairro.
Segundo ele, a Boca do Rio nessa época não tinha esse nome, era conhecida como Cocheira, onde antigamente diziam ser uma grande fazenda. A praia tranqüila logo se tornou uma área de veraneio freqüentada por artistas, músicos e outras personalidades do meio cultural baiano.
Habitada por pescadores, a região também tinha um mangue, de onde seu Aloísio tirava camarão, caranguejo e guaiamu que servia em sua barraca para artistas como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Zizi Possi , Renata Sorrah e Marcos Paulo. Isso fez com que o próprio barraqueiro batizasse o lugar de “Praia dos Artistas”.
Mas “A Cocheira” cresceu e com isso vieram os problemas da violência e da devastação ambiental. Morador engajado do bairro da Boca do Rio, Aloísio criou o Comitê de Defesa da Praia dos Artistas, junto com alguns vizinhos para preservar não só a sua área, “mas todos os mares”.
Uma de suas causas é a resistência a um projeto do governo Paulo Souto, que previa a construção de um emissário submarino que seria instalado próximo à região, para expelir detritos orgânicos. “O projeto antes era para colocar em Jaguaribe e depois mudaram pra cá. Eu não vou desistir, ainda estou brigando para que isso não aconteça”.
Apesar de todos os problemas que o crescimento do bairro trouxe, seu Aloísio garante que o clima de vanguarda e refúgio tropical não afastou os moradores e os antigos boêmios da Praia. Ali estão concentradas também algumas das barracas mais badaladas do público gay, como Aruba e Bahamas. “Por aqui passaram a moda do nudismo, do topless, e a liberação do mundo gay também”.
O homem que batizou a praia hoje se preocupa com a sua preservação. Para ele, “esse é um dos únicos bairros da orla marítima de Salvador que ainda não foi totalmente esmagado por toda essa evolução desastrosa. Falta consciência e se depredarem mais ainda essa área, vão acabar com tudo”.
quarta-feira, 30 de abril de 2008
Ato de Repúdio
Ontem, tivemos contato com o resultado do ENADE que apontou que 17 instituições de ensino superior apresentaram baixas notas no exame de medicina, incluindo quatro federais, entre elas, a UFBA. A Faculdade mais antiga do país conseguiu apenas a nota dois. No entanto, mais surpreendente que a nota foi a justificativa dada pelo coordenador do curso de medicina da citada Faculdade, Antônio Dantas. Para ele, o resultado se deve "ao baixo QI dos baianos". Não satisfeito, afirmou que "o baiano toca berimbau porque só tem uma corda. Se tivesse mais [cordas], não conseguiria". Na minha modesta opinião, que eu não considero nem um pouco burra, o coordenador de medicina foi ridículo e preconceituoso em relação aos baianos. Utilizou-se de uma opinião polêmica para desviar a atenção de um erro em que participa ativamente por causa do posto que ocupa. Ainda falou que não há problemas de infra-estrutura na Faculdade de Medicina. Quem estuda na Federal, como eu, sabe das péssimas condições dos laboratórios de medicina, sem contar no alto custo que um aluno tem que desembolsar para permanecer em um curso caro como o de medicina. De qual povo e qual faculdade estamos falando, coordenador? Com certeza, não são os mesmos. A Universidade Federal do Pará não se manifestou. Acho que o coordenador da FAMEB/UFBA perdeu a oportunidade de fazer o mesmo e ficar calado. Costuma ser melhor do que falar besteira.
Foto: Haroldo Abrantes/ Agência A Tarde
Atualização às 22:06: Uma coisa o coordenador do curso de medicina conseguiu, juntar o diretor da Faculdade de Medicina, José Tavares Neto e o reitor da UFBA, Naomar Almeida Filho, que não se bicam de jeito nenhum. Os dois repudiaram a opinião do professor Antônio Natalino Dantas em nota pública, divulgada esta noite.
Também juntou o senador ACM Júnior e o governador Jaques Wagner que compartilharam da mesma opinião. Os dois acharam que se tratou de uma grande imbecilidade.
terça-feira, 29 de abril de 2008
Revista Muito e a tal Bahia cosmopolita
Eu cheguei a comemorar esta novidade, afinal de contas, dá uma oxigenada no nosso campo profissional, mas a primeira decepção veio exatamente daí. A revista Muito apanhou repórteres que já pertenciam às outras editorias do A Tarde. Ou seja, não dá para falar que a revista participou da recente oxigenação do campo profissional em Salvador que vem registrando uma movimentação inexistente há muitos anos.
A revista se propõe a falar de um conceito que, segundo ela, é pouco explorado pela imprensa de Salvador, a existência de uma Bahia cosmopolita. Inclusive, a revista se define como uma publicação baiana e cosmopolita. "Para a revista Muito, que circula hoje, e todos os domingos, como parte do A Tarde, o Santo Antônio define os caminhos desta publicação, baiana e cosmopolita", afirmou, na primeira edição, a editora-coordenadora da publicação, Nadja Vladi.
No início, não sabíamos muito bem o que ser baiano e cosmopolita queria dizer. Agora, na quarta edição, da revista, já dá pra começar a se ter uma idéia do que a Muito quer dizer com cosmopolita. A primeira capa tratou do bairro do Santo Antônio além do Carmo, a segunda veio estampada com o percussionista, cantor, compositor e "vendedor de picolés", Carlinhos Brown, a terceira trouxe o fotográfio Christian Cravo, herdeiro de uma linhagem de artistas baianos bem conhecida e, por fim, na semana passada, a capa foi sobre ciclovias, claro que relacionando com as experiências que foram postas em prática em outros países.
A Muito com estas capas e com suas reportagens mostra que o conceito de Bahia cosmopolita quer desvendar o que nós possuímos em comum com as grandes metrópoles internacionais. Afinal de contas, que coisa chata ficar falando desta "baianidade nagô" tão cantada e falada, é melhor ir atrás do que de São Paulo nós temos. Nós temos que ser hype e não folk. Algo meio vamos aplaudir o Salvador Downtown.
O leitor entra em contato com um mundo que não pertence a ele. Você discorda? Então, vamos lá. Quem tem dinheiro para fazer especulação imobiliária no Santo Antônio além do Carmo? Eu? Você? (dependendo de quem esteja lendo, a resposta foi sim, mas a minha, com certeza, é não). E o que mais cosmopolita e baiano do que pegar Carlinhos Brown, o menino dos olhos do business da nossa província, para exemplificar o self-made man? Ele se fez, conquistou o mundo, é baiano e cosmopolita, ou seja, é muito, é o vendedor de picolé de 68 milhões de reais.
Se formos para a seção de moda, o conceito de cosmopolita chega aos píncaros da sua explicitação. Ali se faz o total delineamento do público-alvo da Muito, que eu arrisco dizer que são os baianos que podem viajar pelo mundo todo mês ou final de semana, porque, pegando um exemplo, na edição do domingo passado, tinha uma calça jeans de 1.400 reais!!!!!!. 1.400... Eu disse 1.400. Se ninguém fica estarrecido, eu fico e muito.
Tirando esta parte ideológica da minha análise, dá para apontar vários aspectos positivos na Muito. As entrevistas com Solange Farkas, diretora do MAM-BA e da educadora Vera Lazzaroto são duas coisas que merecem receber todos os elogios possíveis da imprensa baiana. A primeira, porque muito se criticou Solange Farkas e, até agora, eu não tinha lido nenhuma manifestação dela e a segunda, pelo exemplo de vida e dedicação da educadora responsável por uma pequena revolução no bairro dos Alagados. Além destas entrevistas, a matéria do Santo Antônio está bem escrita, a coluna de Aninha Franco e a seções Orelha e Parede também merecem ser citadas como destaque da nova filha do grupo A Tarde.
A revista também investe na integração entre os meios, outro aspecto bem interessante e pouco explorado pela imprensa local. Partes das matérias podem ser vistas no site da revista, que ainda conta com produção independente e disponibiliza vídeos de making of das matérias, entre outras coisas.
Vida longa à Muito, mesmo com os arroubos cosmopolitas e, algumas vezes, desconectados da realidade do baiano de classe média que, também, lê o jornal A Tarde. Afinal de contas, uma nova publicação, sendo uma revista e com matérias bem feitas, merece ser aprovada, mesmo que seja com ressalvas.
sábado, 1 de março de 2008
OSCAR
Por falar em interpretações, os Oscar dados aos atores foram merecidíssimos. Onde os Fracos Não Têm Vez, Sangue Negro e Piaf deram a estes atores a oportunidade de mostrarem a sua excelência em cena, o espectador não pisca quando Javier Bardem, Daniel Day Lewis e Marion Cotillard estão na tela. Eu não assisti Conduta de Risco e não posso dizer nada da atuação da Tilda Swinton, melhor atriz coadjuvante.
Outro ponto que merece ser salientado em Piaf é a maquiagem. Muito bem feita, o espectador acompanha o envelhecimento da Piaf diante dos seus olhos. Não há como negar e afirmar que quem está ali é Marion Cotillard. Não, não é. Quem está diante dos nossos olhos é Edith Piaf. Cantando seus sucessos, mostrando as suas dores. Não foi à toa que o filme levou para casa também esta estatueta.
Vejam o trailer de Piaf:
Outro filme que eu gostaria de comentar é Juno. A história da adolescente grávida, surpreende por não ser contada da mesma maneira a qual estamos acostumados a ver. O roteiro tem sacadas inteligentes, com diálogos típicos da adolescência contemporânea, a saída dada à gravidez também não é nem um pouco comum. Outro Oscar merecido, o que foi dado à roteirista Diablo Cody. E como foi bom ver aquela figura tão anti-hollywoddiana, ex-stripper, ganhando o prêmio. Claro que a interpretação da Ellen Page não chega aos pés da pequena Abigail Breslin, Olive de Pequena Miss Sunshine, que roubou a cena no Oscar passado por ter sido indicada pela Academia, mas não é ruim. Contudo, não é espetacular, e comparada com Marion Cotillard então, melhor nem comentar.
Não entendi o Oscar de melhor filme para Onde os Fracos Não Têm Vez, achei um bom filme, mas feito para americano ver. Sem muita razão de ser, sem muita explicação, quase naturalista, o que me incomodou um pouco. Ser para americano ver pode ter sido a razão para receber a estatueta, mas eu ficaria com Sangue Negro que, apesar de abordar um tema americano - a corrida pelo petróleo no Texas, coloca em cena uma outra discussão - os limites da ambição humana. Como eu não sou da Academia, meu voto é nulo e, para mim, só cabe reclamar agora.
Agora, fiquem com o trailer de Juno:
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008
Boca do Rio
A Boca do Rio, hoje, é um bairro popular, marcado por contradições, já que dividem o mesmo espaço as classes C, D e E. A violência também é crescente e mais marcante em algumas regiões do grande bairro que começa no Centro de Convenções ao norte, delimita-se com Pituaçu ao sul e ao leste com o Imbuí que, antigamente, também era Boca do Rio como o Conjunto Guilherme Marback. Tem o Rio das Pedras atravessando o seu limite sul e sendo este o motivo do nome dado ao logradouro.
A violência é resultado da ausência do Estado que propicia a ascensão de um novo tipo de poder, nem tão novo, mas, quase dominante. Hoje, o bairro tem a classe média concentrada em seu centro e as extremidades onde vivem os mais populares e, não por coincidência, onde são registrados os maiores números de crimes na localidade. Exatamente por esta ineficiência do Estado que para diminuir tanto esquecimento tem realizado algumas ações no bairro e o elegeu como sede de uma das administrações regionais do governo municipal.
O bairro parece uma pequena cidade do interior, tem um forte comércio popular, um shopping (o Aeroclube, em reformas há mais de um ano) e, não se sabe quando, terá um Parque Atlântico. O sistema de transportes não é maravilhoso, mas é melhor que em outras regiões da cidade. O bairro ainda é sede da famosa Creche Béu Machado e tem uma biblioteca pública infantil chamada Betty Coelho em homenagem à escritora de histórias infantis.
Enfim, esta é a terceira vez que moro na Boca do Rio e quase um terço da minha vida passei aqui. O bairro como todos os outros da cidade tem os seus problemas, mas morar aqui tem sido bom. É perto da principal via da cidade, a paralela, o Centro de Conveções fica no bairro, não é tão longe do novo centro (Avenida Tancredo Neves e Iguatemi), tem praia, área para caminhadas, não fossem os problemas com segurança e a presença de certos políticos que só aparecem aqui para ganhar votos, o bairro seria ainda melhor.
No vídeo a seguir, vocês conferem a música Beleza Pura na voz de Mariana Aydar, uma das cantoras da nova onda da MPB.