No meu outro blog falei do preconceito que a galera do "Cansei" tem em relação às outras classes sociais. Uma das organizadoras dos protestos no Rio disse que o Bolsa-família incentiva a ociosidade, já disse lá que acho um absurdo, mas não vou repetir o tema "política" aqui.
Na verdade foi só um gancho para eu falar de outro preconceito visto esta semana e que não pode passar despercebido. Estou me referindo à sentença proferida pelo juiz de Barra Funda Manoel Maximiniano Junqueira Filho. O juiz tinha a incumbência de julgar o processo aberto pelo jogador do São Paulo Richarlyson contra o cartola palmeirense José Cyrillo Júnior que em um programa de televisão afirmou que Richarlyson era gay. O jogador classificou como levianas as declarações de Cyrillo.
Obviamente que o juiz tinha todo o direito de achar a queixa-crime procedente ou não, mas o que se viu na argumentação utilizada pelo juiz para justificar a sua decisão foi uma série de preconceitos contra os homossexuais. O juiz não se baseou em nenhum princípio jurídico, mas sim, no seu ponto de vista sobre o que ele acha ser procedente ou não na prática do futebol. Leiam algumas das opiniões do juiz: "Se fosse homossexual, melhor seria admiti-lo, ou omitir. Nesta hipótese, porém, seria melhor que abandonasse os gramados"; "Quem se recorda da Copa de 70? Quem viu o escrete de ouro jogando, (Pelé, Tostão...). Jamais conceberia um ídolo homossexual"; "O que não se mostra razoável é a aceitação de homossexuais no futebol brasileiro, porque prejudicaria a uniformidade de pensamento da equipe, o entrosamento, o equilíbrio, o ideal...". Tudo isto estava na sentença proferida pelo magistrado. Se esta é a posição de foro íntimo do juiz, deveria ter permanecido assim, já que o que se espera da justiça é isenção.
Este procedimento reacende, na verdade, um debate já antigo sobre o preconceito sexual em algumas práticas esportivas, pois tanto aqui quanto em vários outros lugares do mundo, a atividade desportiva, principalmente, a coletiva, é vista como restrita à heterossexuais. Todos devem lembrar de pelo menos um caso de atletas que só assumiram as suas orientações sexuais depois da aposentadoria para não serem afastados da atividade que gostavam de fazer.
Este deveria ser um debate superado, pois o que deveria estar em jogo é o desempenho dos atletas e não a sua orientação sexual, mas sabemos como certos conceitos estão entranhados no imaginário popular por mais que muitas pessoas digam o contrário.
O Grupo Gay da Bahia e os advogados do jogador são-paulino vão entrar com recurso contra o juiz no Conselho Nacional de Justiça. Manoel Maximiniano inclusive já foi afastado do caso Richarlyson.
Vejam um vídeo que mostra que o preconceito não é só do juiz Manoel Maximiniano.
domingo, 5 de agosto de 2007
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