sábado, 13 de outubro de 2007

"Tropa de Elite, osso duro de roer..."

Estreiou ontem em Salvador, o filme mais polêmico da atual temporada do cinema nacional, "Tropa de Elite" do diretor José Padilha. Polêmico pelo tema e por ter sido assistido, em cópias piratas, por milhares de espectadores antes do lançamento oficial. Nesta época de discussão sobre a ética do senado, nada melhor do que a sociedade brasileira, em peso, mostrar que tem distorções em relação à ética. Ela acredita que pode ver o filme, ao mesmo tempo em que pede a postura ética de Renan e dos políticos. Hipocrisia que recebe uma forte crítica do filme, quando mostra parte da classe abastada do país se envolvendo em passeatas pela paz, ao mesmo tempo em que financia o tráfico. Na verdade, para o principal personagem do filme, a situação daqueles que nascem com todos os privilégios e, mesmo assim, preferem a vida do crime estão num patamar pior do que os pobres que são compelidos para o tráfico e outros delitos. Claro que existem outros elementos que precisam ser adicionados a esta discussão como a descriminalização das drogas, mas uma coisa não anula a outra.

Além da hipocrisia, a película, baseada no livro "Elite da Tropa" de Luiz Eduardo Soares, proporciona ao espectador um raio-x da atual situação da violência no Rio de Janeiro, apesar da data inicial se reportar ao ano de 1997. José Padilha já havia mostrado ao país o retrato de um episódio triste da violência fluminense com o documentário "Ônibus 174" que contou a trajetória do seqüestrador Sandro, vítima da violência e também causador dela. Sandro foi um dos sobreviventes da Chacina da Candelária, além disto, perdeu os pais ainda criança. Padilha foi brilhante naquele filme e consegue manter este brilhantismo no “Tropa de Elite”. Claro que alguns recursos como narração no início do filme, por ser muito óbvio e pouco inteligente, poderiam ter sido evitados, mas de uma forma geral, esta obra cinematográfica é muito bem dirigida, os atores estão à vontade em seus papéis e Padilha ainda busca espaços para inovações em uma área cujos recursos de linguagem estão pré-determinados por outras experiências como Cidade de Deus, Cidade dos Homens e Carandiru. Obras que se aventuraram na temática sobre a violência urbana brasileira. Um exemplo disto é quando, em uma cena, o sangue respinga na tela da câmera, algo que poderia ser classificado como grotesco, mas que ficou bem na tela, mostrando a habilidade do diretor.

O diretor ainda é responsável por apresentar ao Brasil o controvertido Capitão Nascimento, interpretado por Wagner Moura, uma espécie de “herói nacional” que não se furta em utilizar a tortura, no Batalhão de Operações Especiais, o BOPE, a Tropa de Elite da Polícia Militar fluminense, em suas investidas nas favelas do Rio. A tortura é, infelizmente, recurso utilizado comumente pela polícia na guerra travada nas ruas dos morros do Rio, precisa ser evitada a todo custo, mas não poderia estar de fora do filme.

Wagner, que já mostrou ser um dos melhores atores da atual safra baiana, ao lado de Lázaro Ramos, Vladimir Brichta, entre outros, está impecável no papel. Os duros treinamentos surtiram um resultado bastante convincente nas telas de cinema. Tanto Wagner quanto outros atores merecem elogios. Caio Junqueira precisa ter a sua participação destacada como o aspirante Neto e André Ramiro como o policial André Matias. O elenco ainda conta com as participações de Fernanda de Freitas (Roberta), Fernanda Machado (Maria), Fábio Lago (Baiano) e grande elenco.

Além disto, o filme consegue desenvolver a narrativa de forma muito bem encadeada, sem deixar muitas brechas, dando a impressão de terem sido mantidas apenas as cenas essenciais para o filme, sem deixar aquela sensação de enrolação. O filme acaba exatamente onde deveria acabar e da forma que deveria acabar.

Confiram o trailer:


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